terça-feira, 5 de outubro de 2010

Vindima

Meu amor, procurámos a beleza,
mas esta tem muitos olhares,
muitas faces, muitas máscaras.
Em nós, foi um tumulto,
um oceano.
A ela entregámos a alma, para conseguir respirar!
Nas fragas abruptas,
que irrompem de imprecação
contra as muralhas do Céu,
viram pela vez primeira,
nossos olhos, a cópula em deleite
em corpos imaculados.
Aqui perscrutámos madrugadas
menstruadas e manhãs
orgásmicas.
Aqui nadámos, aqui pescámos,
aqui sulcámos a terra,
aqui colhemos o nosso vinho,
nossos ventres descansámos,
sobre pedras ardentes.

Frágil era a vida,
mas nesses anos não haviam
fragilidades.
Depois perdemos a alegria!
Depois a generosidade!
Depois, depois, sucumbimos
à maldade!
Depois à iniquidade!

Agora, chegados a este
porto, não sabemos,
em que barco navegar,
nem para que destino
partir.

Meu amor
se não souberes de
minha morte,
da tua não saberei,
só morreremos pela metade!

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